Por um fio...

Clássica cena de filmes de ação: o herói encontra uma bomba e precisa desarmá-la. Usando alguma ferramenta, ele retira uma placa expondo circuitos, fios e coisas do gênero. Qualquer um nesse momento se borraria completamente. Ou sairia correndo. Ou sairia correndo enquanto se borra completamente, não importa. O que importa é que o herói, calmo feito uma cabra, olha fixamente para as vísceras da bomba e diz:

“Agora, com muita calma... é só cortar o fio vermelho...”

Pára!!! Eu não lembro se a cor é vermelha mesmo e isso não importa muito. O negócio é que parece haver um código de conduta moral dos terroristas e montadores de bomba que diz que o fio a ser cortado é sempre da mesma cor. Lá pela metade do Curso de Formação de Terroristas, o professor ministra a aula:


"... E então vocês conectam o timer usando um fio vermelho..."
"Mas, professor! E se eu não tiver um fio vermelho?"
"Sinto muito, rapaz. É impossível montar uma bomba sem um fio vermelho."

Meu Deus (ou meu Alá, sei lá!)! Um terrorista acorda pela manhã determinado a construir uma bomba e mandar metade de Nova York pros ares (não sei porque essa tara por Nova York). Ele junta suas ferramentas, conecta os mecanismos, encaixa as peças e dá pela falta do fio vermelho. Tem fios amarelos, azuis, verdes, fios de cobre, de níquel-cromo, de adamantium... mas não tem fio vermelho. Ele grita lá do porão:

“Ô mãe! Cadê meu fio vermelho?”
“Ah... seu pai usou pra consertar o chuveiro.”

E mais uma vez o dia foi salvo. Mas nesse momento, alguém está pensando: “Esse Marciano é um idiota mesmo! O cara do filme diz que é o fio vermelho porque viu que é esse o fio que realmente precisa ser cortado. Pura coincidência!”. Será? Se você prestar atenção, na maioria das vezes, quando o cara tira a tampa do painel não dá pra ver nenhum componente do mecanismo da bomba. Apenas os fios e coisinhas supérfluas como luzes de pisca-pisca e componentes inúteis. É virtualmente impossível ver em quê os fios estão ligados. Já vi casos em que o herói abre o painel, vê um monte de fios e diz, enquanto mexe no emaranhado:

“Hummm... onde é que está o fio vermelho?”

O que eu sei é que, se eu resolver seguir carreira de terrorista, nunca vou usar esse padrão facilitador que a indústria cinematográfica nos enfiou goela abaixo. Se é pra explodir mesmo, vou fazer uma bomba falsa facilmente detectável e uma outra bomba falsa dificilmente detectável, pro caso de algum espertinho deduzir essa minha tática. Enquanto desmontam a primeira, alguém pensa:

“Hum, isso está muito suspeito. Por que essa bomba está num lugar tão óbvio? E por que essa placa escrito BOMBA com uma seta apontando pra ela? Meu Deus! Isso é só pra desviar nossa atenção!!!”

E sairiam procurando, encontrariam a segunda e todos ficariam felizes. Enquanto isso, a bomba verdadeira vai estar a uns 10km de onde estão as outras e com apenas uns 5 segundos de diferença. Se deduzirem que existe uma terceira, nem dá tempo de chegar. Agora, se mesmo assim, conseguirem localizar minha bomba verdadeira, não conseguirão se aproximar dela, porque será colocada dentro de uma caixa blindada lacrada, com mecanismos anti-furto, plaquinhas de “perigo” (pra dar medo!), um fosso de ácido de 5m de extensão, CD da banda Calypso tocando num sistema de som surround ultra-potente, cercas eletrificadas, um Pit Bull e um Rottweiler muuuuuito ferozes e um Fox Paulistinha pra latir sem parar e manter os outros dois irritados.

Mas se mesmo com toda essa minha tecnologia, alguém conseguir chegar até a bomba e abrir o painel, dentro haverá 300 fios vermelhos cuidadosamente unidos de forma paralela admirável e com uma etiquetinha com os dizeres “unidos venceremos!”, o que não fará diferença nenhuma, porque o que detona a bomba é um fiozinho mixuruca amarrado na própria placa do painel que foi puxado quando tiraram a placa e provocou a explosão instantânea da minha bomba.

Moral da história: se ferraram.

(direto do blog do Marciano)

8 comentários:

  1. Okay, ao ler pensei nos montes de filmes que já assisti e em muitos deles o "diaxo" do fio vermelho. Bom texto, bem ácido.


    Charlie B.

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  2. Isso me faz pensar em por que Holywood é tão valorizada. Só tem clichês!1

    Bom post, como sempre. Pena que não escreve com muita frequência.

    GabriellHRN

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  3. Cara, gosto mt desse blog, mas vc podia dimunuir o espaço entre as postagens!

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  4. Vai postar no blog mais não??

    :(

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  5. Pessoal que gostou desse meu texto, podem ler outros no blog texticulosdomarciano.blogspot.com . O link ali no final está desatualizado. Valeu!...

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  6. Mas, se a caixa é blindada, que estrago a bomba causaria?

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