A Donzela Indefesa

"Algum herói másculo me proteja!"
Existem clichês.

Depois existem Clichês com C maiúsculo... e depois existem Clichês Muito Batidos... e depois existem Uldra Hiper Hardcore Clichês Épicos Melódicos.

E depois, existe a Donzela Indefesa.

Sério, a Donzela Indefesa é um clichê tão antigo, tão primordial, e tão batido, que o próprio ato de falar sobre ela já se tornou clichê. Antes mesmo de inventarem o cinema com som, bandidos sem coração já amarravam pobres mocinhas nos trilhos do trem, preparando um verdadeiro momento Rá-Tim-Bum para serem salvas pelo herói. A coisa é tão recorrente que, se um dia a humanidade acabasse e uma futura civilização de arqueólogos extraterrestres resolvesse estudar o legado da raça humana, com certeza o clichê Donzela Indefesa ganharia um capítulo só pra ele.

"Cara... esse povo gostava mesmo disso!"


"Socorro... me molhei todinha!!!"
Mas por mais óbvio que seja, ao contrário dos duelos de bangue bangue que tiveram seu merecido descanso, a Donzela Indefesa ainda está por aí, povoando nossos filmes, aguçando nossa pena e nossos instintos de macho alfa com seu rostinho angelical, seu olhar amedrontado e, principalmente,  suas roupinhas molhadas e/ou rasgadas.

Se por acaso o perigo se aproxima, se e o vilão maligno está prestes a apertar o botão da mega ultra bomba assassina que vai destruir o mundo, a Donzela Indefesa não titubeia - ela imediatamente cumpre o seu dever!

Ou seja: Corre para um cantinho, faz uma cara sensualmente apavorada, e começa a gritar "Socorro! Socorro!" desesperadamente sem parar.


"Uni duni tê"
Os gritinhos e a roupa fragilizada são importantes, mas claro que este não é o principal papel da Donzela Indefesa.

Todo mundo sabe, mas não custa repetir, que o seu papel principal é se meter em encrenca, ser perseguida, ameaçada capturada... enfim, é estar em perigo o máximo de tempo possível, e tornar a vida do herói mais difícil. Afinal, se o herói é um Zé Fodão capaz de superar qualquer coisa, ele precisa de alguém pra criar dificuldades, ou o filme fica sem graça.

É aí que entra a Donzela Indefesa. Sua única missão é adicionar um pouco mais de desafio à vida do herói para deixar o filme mais emocionante, e pra isso ela segue algumas regras básicas do manual da Donzela Indefesa.

Por exemplo numa perseguição, as Donzelas Indefesas sempre caem no chão quando estão sendo perseguidas, mesmo se estiverem num terreno perfeitamente liso e sem obstáculos. De preferência, logo após caírem elas torcem o tornozelo e precisam ser carregadas.... bem, mesmo se não se machucarem, aparentemente elas só conseguem correr se o herói estiver por perto as segurando pelo braço.
"Querido diário, hoje eu tracei a Sharon Stone."
Lógico que todo esse trabalho sempre tem sua recompensa, e a recompensa por se dedicar tanto pela Donzela Indefesa é... a própria Donzela Indefesa.

Depois que tudo acaba, quando o perigo finalmente está superado, e o herói do filme está lá, intrépido vencedor da batalha onde ela não ajudou com nada a não ser poluição sonora, é hora do apaixonante momento romântico, quando a Donzela Indefesa, aliviada por estar livre dos perigos, vai recompensar o seu bravo e viril salvador com um estonteante beijo cinematográfico.


E assim partimos para o final feliz :)

4 comentários:

  1. Nossa, Sharon Stone no Allan Quatermain, isso é épico! Amava isso na sessão da tarde.

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  2. seus artigos sobre clichês são fantásticos...eu mesmo sempre fico prestando atenção aos clichês qdo vou ver um filme, é inevitavel...

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  3. tem que fazer a resenha do filme "O Segredo de Brokeback Mountain"...

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  4. Seu post é muito bom. Enquanto lia lembrava de várias cenas de mocinhas em perigo, até da Olivia gritando "socorro Popeye".

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